terça-feira, 13 de abril de 2010

Batata Quente

A comunicação social é testemunha, a mais de cem anos, de um conflito entre duas das profissões que se encaixam neste campo. Para aqueles que não sabem, estou falando do antigo duelo entre jornalistas e publicitários. Já digo agora, no início deste texto, que este confronto não abrange todos os profissionais de ambas a profissões, mas é inegável que muitas frases ásperas já foram disparadas de um jornalista para um publicitário, e vice-versa.

É interessante ressaltar que, por mais irônico que possa ser, estes ofícios são de certa forma interdependentes. Se por um lado a publicidade representa uma esmagadora parcela na fonte de renda dos meios de comunicação (e acabam assim pagando indiretamente os salários dos jornalistas), por outro estes publicitários não teriam muitas opções de meios interessantes para divulgar suas mensagens não fosse pela existência da mídia. Por que, então, há este conflito?

A resposta provém de questões puramente éticas. Os jornalistas atacam os publicitários, afirmando que estes são fantoches cuja função é servir grandes corporações, ajudando-as a seduzir a mente das pessoas em busca de aliviar sua sede inesgotável por dinheiro e poder. Devo dizer que, neste aspecto, muitas pessoas concordam com os jornalistas. Como estudante de publicidade, devo dizer que não concordo com a afirmação, pois, como um professor uma vez me disse, se fosse assim tão fácil seduzir as pessoas, não existiria a profissão de publicitário. Também penso que o consumidor é por muitas vezes tratado como um bebê, ou seja, alguém que não possui o menor controle sobre seus impulsos, o que, todos hão de concordar comigo, não é verdade.

Existe algo que percebo como um pensamento comum à grande maioria da sociedade, que é um certo desprezo por qualquer um que faça algo para obter lucro. Isso se aplica às grande empresas citadas acima. Elas querem lucrar, e para ajudá-las contratam publicitários, que também querem ganhar seu dinheiro, assim como todo o resto dos trabalhadores. O que deve ser crucificado é o lucro obtido por meios anti-éticos. E, neste ponto, pode-se voltar a atacar a publicidade, alegando sua falta de ética. E fica a pergunta: ao criar uma propaganda que enalteça o produto de forma adequada, ou seja, de forma não enganosa, o publicitário está mentindo? Será que as pessoas que assistirem ao comercial não perceberão claramente que ele foi criado apenas para tentar convencê-las a comprar o produto em questão? E, com este conhecimento, elas não seriam perfeitmante capazes de decidir se querem ou não comprá-lo, de acordo com suas necessidades? Minha resposta pessoal: Sim, é óbvio.

E agora, como publicitário, é minha vez de exercer minha liberdade de expressão e, por meio deste, questionar o quão ético é o mundo do jornalismo. Jornalistas são vistos, pela maioria das pessoas como "mensageiros da verdade", pessoas que diariamente nos trazem notícias sobre o que aconteceu mundo afora. Apenas os mais abastados de conhecimento na área conseguem se desvencilhar da idéia que colocamos na cabeça desde que nascemos: a idéia de que aquilo que é dito em um jornal é exatamente o que ocorreu, e que um jornal nos informa sobre todos os acontecimentos importantes que ocorrem.

É aí que está o "lado negro" do jornalismo, que, na minha opinião o torna muito mais perverso que a publicidade. Todo meio de comunicação possui laços políticos com governos e/ou corporações. Logo, eles por vezes são obrigados a omitir informações, ou até mesmo transformá-las, de acordo com os interesses destas empresas, que podem não desejar que a população tome conhecimento sobre algo que ocorreu. Neste caso, a informação distorcidaserá recebida pela população como verdade absoluta. Os meios de comunicação são quase que obrigados a ceder às vontades destas corporações, pois sem eles podem perder muito dinheiro ou até falir. Logo, obrigam os jornalistas a dizerm o que deve ser dito para satisfazer seus "stake holders". Por que os jornalistas obedecem? Oras, porque se não o fizerem perdem o emprego. Como eu disse, todos querem ganhar dinheiro.

Para finalizar, eu digo que, a meu ver, a profissão que pode ser caracterizada como aquela que tem o poder de enganar a população é o jornalismo. Não que publicitários sejam santos, mas tampouco são demônios. São todos humanos, como os jornalistas. Porém, a alta credibilidade que o jornalismo tem deveria obrigá-lo a ser sempre honesto. O quão anti-ética pode ser a ação de enganar milhares de pessoas para sobreviver no mercado? O que falávamos mesmo sobre a ganância das grandes empresas? Da língua venenosa dos publicitários? Será que estes males estão presentes apenas dentro das imensas instalações de multi-nacionais e dos descolados ambientes das agências? Pois é... A batata quente queimou!

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